O premiado fotógrafo
brasileiro Sebastião Salgado traz para o Sesc Avenida Paulista a partir do dia
17 de julho de 2019, quarta, a exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada“. O
registro, feito na década de 1980, mostra a realidade do que foi o maior garimpo
a céu aberto do mundo, na região da Amazônia Paraense. Em mais de cinquenta
fotos, a exposição revela o cotidiano da mina de onde foram extraídas toneladas
de ouro em mais de uma década de exploração. Pelas lentes do fotógrafo mineiro
o visitante percorre a realidade da jazida, os trabalhadores em atividade, as
condições precárias, e a “febre do ouro” que reuniu cerca de 50 mil garimpeiros
no auge do período de extração. Sebastião Salgado passou um mês no local
registrando a chegada de pessoas de todos os cantos do Brasil, o ambiente
imerso na brutalidade do trabalho, os sonhos de quem vinha para construir seu
futuro e a esperança de encontrar um dos materiais mais cobiçados na história
da humanidade. A exposição tem a curadoria e design de Lélia Wanick Salgado,
responsável pela editoria e organização de todo o trabalho de Sebastião
Salgado, co-fundadora da agência Amazonas Images e do Instituto Terra. Ocupando
um andar inteiro da Unidade e outro reservado para a ação educativa, “Gold –
Mina de Ouro Serra Pelada” tem entrada gratuita e permanece em cartaz até 03 de
novembro.
SEBASTIÃO SALGADO
Sebastião Salgado
nasceu em 1944 em Minas Gerais, Brasil, e vive em Paris, França. É casado com
Lélia Wanick Salgado, com quem tem dois filhos e dois netos.
Formado em economia,
Salgado começou sua carreira como fotógrafo profissional em 1973, em Paris, e
trabalhou com agências de fotografia – dentre as quais a Magnum Photos – até
1994, quando ele e Lélia Wanick Salgado fundaram a Amazonas Images, dedicada exclusivamente
à sua obra.
Ele viajou por mais
de 100 países para desenvolver seus projetos fotográficos. Além das publicações
na imprensa, sua obra foi apresentada em livros como Other Americas [Outras
Américas] (1986), Sahel: l’homme en détresse (1986), Sahel: el fin del camino
(1988), Workers[Trabalhadores] (1993), Terra (1997), Migrations [Êxodos] e
Portraits [Retratos de crianças do êxodo] (2000), Africa (2007), Genesis
(2013), The Scent of a Dream [Perfume de sonho] (2015), Kuwait, a desert on
fire (2016) e Gold (2019). Todos esses livros foram editados, concebidos e
tiveram seu projeto gráfico elaborado por Lélia Wanick Salgado. Exposições
itinerantes dessas obras foram, e continuam a ser, apresentadas em museus e
galerias por todo o mundo.
Em 2013 foi lançado
o livro De ma terre à la Terre [Da minha terra à Terra], um relato sobre a vida
e a carreira de Salgado escrito pela jornalista francesa Isabelle Francq. Em
2014, estreou o documentário The Salt of the Earth [O sal da terra], codirigido
por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. Selecionado para os mais importantes
festivais de cinema, ele recebeu o Prêmio Especial do Festival de Cannes de
2014, na seção Un certain regard, bem como o Prêmio César do cinema francês
para melhor documentário em 2015, além de uma indicação para o Oscar de melhor
documentário (longa-metragem) na 87a Cerimônia do Oscar, no mesmo ano.
Salgado está
trabalhando atualmente em um projeto fotográfico sobre a Amazônia brasileira,
seus habitantes e as comunidades indígenas; seu objetivo é ampliar a
conscientização sobre as ameaças que elas enfrentam em consequência da
exploração ilegal da madeira, da mineração do ouro, da construção de represas,
da criação de gado e do cultivo de soja e, cada vez mais, das mudanças
climáticas.
Sebastião Salgado é
Goodwill Ambassador [Embaixador da Boa Vontade] da Unicef, e, entre outras
distinções, foi nomeado membro honorário da Academy of Arts and Sciences nos
Estados Unidos. Ele recebeu inúmeros prêmios e honrarias, como o Grand Prix
National, Ministério da Cultura, França; o prêmio Príncipe de Asturias de las
Artes, Espanha; a Medaglia della Presidenza della Repubblica Italiana,
Internacional, Centro de Pesquisa Pio Manzù, Itália. Ele foi nomeado Comendador
da Ordem do Rio Branco, no Brasil, e Commandeur de l’Ordre des Arts et des
Lettres, Ministério da Cultura, França.
Em 2016, Salgado foi
eleito membro da Académie des Beaux-Arts do Institut de France, e no mesmo ano,
a França o nomeou Chevalier (Cavaleiro) de la Légion d’Honneur. Em 2018, foi
condecorado Chevalier de l’Ordre du Mérite Culturel pelo Principado de Mônaco.
Nesse ano, foi também eleito Foreign Honorary Member [Membro Honorário
Estrangeiro] da American Academy of Arts and Letters, Nova York, Estados
Unidos.
Desde 1990, Lélia e
Sebastião vêm trabalhando juntos na recuperação de parte da Mata Atlântica
brasileira, no estado de Minas Gerais. Em 1998, conseguiram tornar essa área uma
reserva natural e criaram o Instituto Terra. A missão do Instituto é voltada ao reflorestamento, à conservação e
à educação ambiental.
GOLD – MINA DE OURO
SERRA PELADA
“O que dizer desse
metal amarelo e opaco que leva homens a abandonar seus lares, vender seus
pertences e cruzar um continente, a fim de arriscar suas vidas, seus corpos e
sua sanidade por causa de um sonho? “
Sebastião Salgado
Um morro que se
transformou em cratera e a cratera que se findou lago, assim foi o processo de
exploração da mina de ouro conhecida como Serra Pelada. Desde sua descoberta em
1979, o local, na atual cidade de Curionópolis, chegou a receber 50 mil
garimpeiros, de diversas partes do país, em busca do mesmo sonho: enriquecer. O
“formigueiro humano”, que recebeu o título de maior mina a céu aberto do mundo,
tinha um fluxo intenso de trabalho, com condições precárias e muitos olhos
atentos. Tudo o que era retirado da terra tinha roteiro e destino final, e cada
metro quadrado um dono. Com 200 metros de diâmetro e mesma profundidade, o
garimpo era repartido em lotes de 2×3 metros, e os trabalhadores divididos
segundo suas funções: meia-praça, cavador, apontador, apurador e o formiga. Não
eram permitidas mulheres, armas e álcool, sendo os policiais federais
responsáveis por conter a violência. Em 1986, neste ambiente de tensão e
esperança, chegava na região Sebastião Salgado, fotógrafo que tinha no
currículo trabalhos para agência Magnum e registros icônicos como o do atentado
ao presidente norte-americano Ronald Reagan.
Na exposição “Gold –
Mina de Ouro Serra Pelada” os visitantes reencontram esta história, na qual o
mineral protagoniza momentos abruptos no itinerário antrópico: a movimentação
de massas humanas, mudanças ambientais e marcas permanentes na sociedade. Em 56
fotografias, é possível acompanhar o olhar de Salgado pelas diversas vidas que
passaram, permaneceram ou se perderam no garimpo paraense. As trilhas
encravadas na cratera, os garimpeiros com sacos de terra nas escadas de madeira
(apelidadas sugestivamente de “adeus mamãe”), o sobe e desce de corpos cobertos
de lama e suor, o desapontamento em cada vão aberto sem uma pepita achada e a
euforia quando do encontro com um lampejo dourado. A paisagem de Serra Pelada
que Sebastião Salgado apresenta nesta exposição revela as aflições, alegrias e
os anseios de um povo que largou suas vidas e suas famílias para irem desbravar
uma terra com configurações inóspitas e de futuro incerto. “O ouro é um amante
imprevisível. Enquanto alguns garimpeiros afortunados partiram da Serra Pelada
com dinheiro, compraram fazendas e empresas e nunca se sentiram traídos,
outros, que encontraram ouro e pensaram que havia mais fortunas esperando por
eles, acabaram, por fim, perdendo tudo o que tinham obtido. Com o amigo do meu
pai aconteceu isso. Ele achou 97 kg de ouro, reinvestiu seus ganhos em novos
lotes e equipes adicionais de peões para, no fim, deixar a mina de mãos vazias”
– comenta o fotógrafo.
Com curadoria e
design de Lélia Wanick Salgado, fotografias inéditas guardadas há trinta anos
chegam a público, revelando a dimensão e a egrégora por trás deste capítulo
importante da história nacional. Serra Pelada permanece na memória coletiva e
na visão de Sebastião Salgado como uma das mais impetuosas incursões humanas
impelidas pela ambição. “Por uma década, ela evocou o El Dorado há muito
prometido, mas, atualmente, essa corrida do ouro mais selvagem que o Brasil já
teve se tornou apenas uma lenda, que permanece viva por meio de algumas
lembranças felizes, muitos arrependimentos dolorosos — e fotografias”.
GOLD
A exposição
compartilha do lançamento do livro “Sebastião Salgado – Gold”, pela Editora
Taschen, que reúne o portfólio completo de Sebastião Salgado feito em Serra
Pelada. A publicação acompanha pictoriamente a trajetória do fotógrafo a partir
da autorização para visitar o garimpo, em setembro de 1986, após ter sido
negada por seis anos pelas autoridades militares brasileiras.
A opção pelo preto e
branco marca um retorno à fotografia monocromática, seguindo uma tradição de
nomes como Edward Weston, George Brassaï, Robert Capa e Henri Cartier-Bresson,
que definiram o início e o meio do século XX. “Em toda a minha carreira no The
New York Times”, lembrou o editor de fotografia Peter Howe, “nunca vi editores
reagirem a nenhum conjunto de imagens como fizeram com Serra Pelada”.
Tanto no livro
quanto na exposição, é perceptível a concretude do trabalho de Salgado, o que o
torna vivamente contemporâneo. Com mais de duzentas páginas a publicação traz
um prefácio do próprio fotógrafo e um ensaio do escritor e jornalista Alan
Riding. A publicação pode ser adquirida nas Lojas Sesc e o lançamento acontece
no dia 17 de julho, com a assinatura do fotógrafo, na própria Unidade.
PROGRAMAÇÃO
INTEGRADA
A exposição
contempla ainda uma programação integrada, com cursos, oficinas, e atividades
para diversos públicos sobre o pensar e o fazer fotográfico. Os temas abordam
desde parâmetros históricos como técnicos, apresentando ao público visões
distintas sobre a fotografia. Fotojornalismo, fotografia documental e História
da Fotografia Brasileira estão entre as abordagens que a programação integrada
oferece até final da exposição, correlacionando ainda aspectos socioambientais
e históricos relacionados à Serra Pelada.
MOSTRA PARALELA –
GALERIA MARIO COHEN
A partir do dia 19
de julho, quinta, o público pode conferir a mostra paralela que acontece na
Galeria Mario Cohen, com fotografias do mesmo trabalho apresentado no Sesc
Avenida Paulista. A Galeria, que fica localizada no bairro de Pinheiros, mantém
as obras em cartaz até o dia 21 de setembro, das 11h às 19h (segunda à sexta),
e das 11h às 15h (sábados).
https://passeiosbaratosemsp.com.br/visite-a-exposicao-gold-mina-de-ouro-serra-pelada-de-sebastiao-salgado-no-sesc-paulista/
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